Quando uma pessoa inicia um tratamento são muito comuns dúvidas e preocupações sobre os efeitos que o uso de outras substâncias podem causar nesse tratamento.
As interações medicamentosas acontecem quando o paciente usa mais de um medicamento ao mesmo tempo, e um influencia a ação do outro no organismo.
Os efeitos provocados por interações medicamentosas podem ser positivos, quando ajudam na resposta ao tratamento e na segurança do paciente, ou podem ser negativos quando pioram o efeito do tratamento, seja por causar reações adversas ou por anular ou diminuir o efeito do medicamento no organismo.
As interações medicamentosas podem acontecer também com o uso de alimentos, plantas ou outras substâncias ativas.
Podem ocorrer interações medicamentosas com o uso da Terapia Antirretroviral (TARV), que podem diminuir o efeito desses medicamentos ou aumentar sua toxicidade, ou seja, aumentar a chance de uma pessoa ter uma reação adversa com o tratamento.
Os principais medicamentos que podem afetar a TARV e que precisam uma atenção especial dos profissionais de saúde e das Pessoas que vivem com HIV (PVHIV) são:
Alguns antirretrovirais podem interagir com métodos contraceptivos hormonais, como anticoncepcionais orais, injetáveis ou implantes. Algumas dessas interações podem aumentar a chance de ocorrer uma gravidez não planejada por diminuir o efeito dos contraceptivos.
Pacientes em uso de efavirenz, nevirapina e ritonavir podem precisar usar um outro método contraceptivo de barreira, como a camisinha, pois o uso desses medicamentos pode diminuir os níveis dos hormônios no sangue e prejudicar o efeito do contraceptivo hormonal.
⚠ Por isso é importante consultar um profissional de saúde para saber qual o método contraceptivo mais indicado para o seu caso.
A rifampicina é um medicamento muito importante usado para tratar a tuberculose no Brasil, mas apresenta muitas interações medicamentosas com outros medicamentos, incluindo os antirretrovirais (ARV).
Alguns ARV como os inibidores de protease (IP) interagem com a rifampicina. Esses medicamentos são: lopinavir, saquinavir, ritonavir, atazanavir, darunavir, fosamprenavir e tipranavir;
⚠ Se você faz uso desses medicamentos para tratar o HIV é importante que na consulta com o médico converse sobre a necessidade de trocar a rifampicina por outro medicamento contra a tuberculose, pois ela pode acelerar a eliminação desses medicamentos, diminuir o efeito da TARV e provocar resistência ao HIV.
As estatinas são medicamentos usados para diminuir os níveis de colesterol no sangue e prevenir doenças do coração e dos vasos sanguíneos.
São medicamentos muito utilizados no Brasil e por isso precisam de uma atenção especial quando o assunto é interações medicamentosas.
A sinvastatina é a estatina mais utilizada, e o seu uso junto com os inibidores de protease do HIV não é recomendado, pois eles podem aumentar os níveis da estatina no sangue e causar um evento grave nos músculos e nos rins do paciente.
⚠ Se você usa medicamentos inibidores de protease e sinvastatina ao mesmo tempo, converse com o seu médico sobre a possibilidade de trocar a sinvastatina por outro medicamento.
Os inibidores de bomba de prótons (IBP) são uma classe de medicamentos que diminuem a acidez do estômago e são indicados para tratar úlcera e refluxo. O omeprazol é o inibidor de bomba de próton (IBP) mais conhecido.
O omeprazol interage com o atazanavir e deve ser evitado quando o paciente utiliza esse ARV, pois pode diminuir a efetividade da TARV e provocar resistência do HIV.
Os medicamentos raltegravir, atazanavir e dolutegravir interagem com antiácidos utilizados para alívio de sintomas de azia, como aqueles com magnésio, alumínio ou cálcio, podendo diminuir o efeito da TARV quando tomados juntos ou em horários muito próximos.
⚠ Por isso, caso você precise usar um antiácido e faça uso de um dos ARV citados acima, você deve tomá-los em horários separados.
⚠ Caso você faça uso de atazanavir, e precise tomar hidróxido de alumínio para tratar azia, você deve administrar o atazanavir pelo menos 2 horas antes ou 1 hora depois do antiácido.
⚠ Já se você usa dolutegravir, deve tomá-lo 4 horas antes ou 6 horas depois do antiácido.
Os inibidores da protease podem aumentar o efeito de alguns medicamentos sedativos como o midazolam e triazolam. Esses medicamentos são usados em alguns procedimentos médicos para diminuir a consciência do paciente, podendo causar uma sedação leve, como uma sonolência, ou mais profunda, onde o paciente dificilmente é despertado por voz.
O uso dos inibidores de protease associados ao midazolam e triazolam podem causar uma sedação intensa e grave nos pacientes. A sedação grave provoca risco de vida ao paciente, pois pode parar sua respiração e seus batimentos cardíacos.
Esses ARV também podem diminuir o efeito de alguns antidepressivos, como mirtazapina, paroxetina, bupropiona e sertralina.
⚠ Se você faz uso de inibidores de protease e precisa iniciar o tratamento para depressão, converse com o profissional de saúde, pois pode ser necessário ajustar a dose do seu antidepressivo.
⚠ Se você faz uso de efavirenz e vai iniciar o tratamento para depressão ou faz uso também de antidepressivos, converse com seu médico, pois o uso de alguns antidepressivos com esse ARV pode aumentar o risco de arritmias do coração.
Por fim, os anticonvulsivantes fenitoína e carbamazepina interagem com muitos ARV, diminuindo o efeito da TARV. Em alguns casos são contraindicados, como em associação com: atazanavir, darunavir, efavirenz ou ritonavir.
⚠ Se você faz uso da TARV e precisa usar também um desses medicamentos converse com seu médico.
Os medicamentos utilizados para tratar a hepatite C interagem com muitos ARV, em alguns casos é necessário ajustar a dose e em outros substituir os medicamentos.
Os inibidores de protease podem aumentar o efeito de alguns medicamentos usados para tratar a hepatite C, aumentando seus efeitos adversos.
Já o efavirenz pode interagir e diminuir o efeito de alguns medicamentos para tratar a hepatite C.
⚠ Por isso, é muito importante que se você faz uso da TARV e de medicamentos para a hepatite C, consulte com um profissional de saúde para que este profissional esteja atento aos esquemas que utiliza e as possíveis interações, sempre avaliando os efeitos indesejáveis.
Alguns medicamentos usados para tratar a malária, como artemeter, hidroxicloroquina e cloroquina, interagem com alguns ARV.
As interações podem aumentar ou diminuir os efeitos dos antimaláricos, mas principalmente intensificam o risco desses medicamentos de causar arritmias do coração que pode ser muito grave e levar a uma parada cardíaca.
⚠ Por isso, caso você faça uso da TARV e precise usar antimaláricos, você deve conversar com um profissional de saúde.
Texto produzido por: Ana Luiza Pereira da Rocha, graduanda em Farmácia, Faculdade de Farmácia da UFMG
Revisão: Profa. Marina Guimarães Lima
Edição e postagem: Ana Luiza Pereira da Rocha
Referências Bibliográficas:
Imagens:
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